segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Ela estava vestindo uma calcinha fio dental com a frente de renda


No início da semana passada o julgamento de um caso de estupro ocorrido na cidade de Cork, no interior da Irlanda, veio à tona e ganhou os jornais do mundo todo. Um júri composto por 8 homens e 4 mulheres inocentou por unanimidade um homem de 27 anos acusado de estuprar uma adolescente de 17 anos, depois da advogada de defesa apresentar a calcinha da garota no tribunal como "prova".
Nas palavras da advogada, “A evidência exclui a possibilidade [da jovem] ter sido atraída pelo réu e estar aberta para conhecer alguém e estar com alguém? Você tem que olhar para o jeito que ela estava vestida. Ela estava vestindo uma calcinha fio dental com a frente de renda”.
Painel na Irlanda com vários tipos de calcinhas, nenhum deles do tipo "Ela estava pedindo"
Infelizmente ainda velha conhecida de todas nós, a culpabilização da vítima foi usada de maneira vil num julgamento. 
Em resposta, a chefe executiva do Dublin Rape Crisis Centre (Centro de Crise de Estupro de Dublin), Noeline Blackwell, foi a público criticar o uso desses “estereótipos do estupro” em julgamentos. Em seguida, o Movimento Feminista Socialista Rosa, conhecido na Irlanda pela sua luta pelos direitos das mulheres e pela recente atuação no movimento pela legalização do aborto, organizou um protesto na quarta-feira passada, no centro de Cork, a fim de manifestar indignação pelo argumento utilizado no julgamento. Os protestos também foram organizados em outras duas cidades, Dublin e Limerick, em solidariedade. 
Isto não é consentimento: uma bandeira contra culpar a vítima
Nas redes sociais, mulheres se organizaram em torno da hashtag #ThisIsNotConsent (Isto Não é Consentimento) e começaram a postar fotos de lingeries de diferentes tipos com o objetivo não só de manifestar sua revolta pelo ocorrido, mas também seu apoio e solidariedade às vítimas de violência, tão frequentemente desacreditadas. 
Cartum mostra mulher em loja tendo
que escolher modelo de calcinha:
"minha culpa" vs "culpa dele"
Além de esse caso ser um total absurdo por si só, não é um caso isolado na "ilha esmeralda" [como a Irlanda é conhecida]. Oito meses atrás ficou famoso em toda a ilha, e também gerou revolta e manifestações, o caso de quatro jogadores de rugby da Irlanda (cujo time engloba jogadores da República da Irlanda e da Irlanda do Norte) que foram inocentados das acusações de estupro depois que a defesa utilizou da mesma tática de culpabilização da vítima ao levar ao júri as roupas da vítima como evidencia. 

O caso foi lembrado no parlamento irlandês pela parlamentar Ruth Coppinger, que enfatizou que, além de tudo, casos como este corroboram para que outras vítimas se sintam inseguras e não denunciem abusos sofridos. 
Os jornais também lembraram que em 2001, na Escócia, uma menina também de 17 anos foi violentada por um rapaz de 15 e forçada a mostrar a lingerie que usava quando foi estuprada na frente do júri e ler uma frase que dizia “Little Devil” [pequena diaba]. O rapaz foi condenado, mas a menina não aguentou o sofrimento e tirou a própria vida.
"Acredite nela", pede cartaz de
protesto: nem mesmo uma
mulher nua está consentindo

Os protestos não ocorreram apenas nas redes sociais e nas cidades já citadas, como também tomaram Londres e Belfast. Nos protestos mulheres e homens carregavam cartazes e lingeries para lembrar que a culpa do estupro é sempre do estuprador, e que determinado tipo de roupa ou lingerie não pode ser visto como consentimento. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Peças

Leilão Calcinha Usada
Veja as peças anunciadas

Postagens populares